Medo em Cherry Falls (Geoffrey Wright, 2000): muito sensual, e melhor do que parece.
Ainda lembro da época de seu lançamento e de quando a “fita” chegou nas locadoras, ali por volta de 2001. Medo em Cherry Falls era mais um filme lançado na onda de horror teen que tomou a virada dos anos 90 para os anos 2000, e se perdeu entre tantos nomes maiores (que se revelaram menores no teste do tempo) e sequencias mais esperadas. Nem aos cinemas chegou interinamente, sendo lançado direto no mercado de vídeo em muitos países. Uma pena, pois esse filme pode ser acusado de várias coisas - inclusive de transgressor, pelos mais conservadores, controverso, e sem dúvidas, polêmico -, menos de ser pouco original.
A trama eu já joguei no primeiro parágrafo. Um assassino misterioso que mata adolescentes virgens de um determinada High School, na pequena e, creio, fictícia (porque não é possível....) Cherry Falls. Assim como em outros filmes, o serial killer não tem identificação e motivo aparente, se esconde por baixo de um visual intimidador e impactante (no caso, um traje rocker/gótico feminino e uma longa cabeleira desgrenhada cobrindo o rosto), e um grande mistério começa a se desvendar na tentativa de contê-lo.
Apesar da violência moderada e do timing de comédia em determinadas situações, Medo em Cherry Falls não se perde na pasmaceira slasher típica, escondendo, por baixo, uma trama de vingança clássica, mas orientada por um appeal sexual, evidente desde o princípio, mas mais profundo do que imaginamos inicialmente.
Até por que, tudo em Cherry Falls cheira a sexo. Os adolescentes não pensam em outra coisa, o que já é típico do gênero, mas a direção do filme parece querer reforçar esse apelo a todo momento nas interações entre os personagens, jogando a sugestão sexual no ar em todos os quadros. Seja de forma grosseira entre os adolescentes, seja de forma muito sutil e sensual entre os adultos, que, de seu lado, protagonizam cenas sutilmente maliciosas, onde o flerte e alguma tensão sexual subjazem o texto o tempo todo. A impressão que dá é que Cherry Falls respira sexo e todo mundo paquera com todo mundo: o pai com a filha, a mãe com o namorado da filha, a assistente com o xerife, a secretária com o diretor, os alunos com os professores, e por aí vai, todos esbanjando sensualidade nos closes, mas de forma natural e espontânea - mérito dos bons roteiro e direção.Dizem, internet afora, que Cherry Falls é uma expressão inglesa para significar a "perda da virgindade", e esse "vermelho" que "escorre" é o tempo todo lembrado nas entrelinhas da montagem, seja nas cascatas de Cherry Falls, seja nos créditos do video, quase como uma mensagem subliminar nos lembrando que o sexo é o motivo de tudo que acontece ali.
Dos seus prazeres aos seus horrores, em todas as instâncias possíveis, Medo em Cherry Falls tenta esmiuçar esse componente, que é tão comum nos filmes de horror justamente por ser associado ao medo - sexo e morte são referenciados pelo mesmo símbolos nos oráculos, inclusive. Ainda que o faça de forma superficial, até por se tratar de uma trama mainstream adolescente, o faz de forma coerente, redonda, sem desrespeitar nossa inteligência, e indo além ao refletir sobre nossas hipocrisias e violências a partir de um argumento que não é nada banal.
Ano: 2000
País: Estados Unidos
Direção: Geoffrey Wright
Roteiro: Ken Selden
Elenco: Brittany Murphy, Jay Mohr, Gabriel Mann, Michael Biehn
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